Mesa-redonda : Os silêncios do Jornalismo – democracia, transparência e ocultação

Posted By on mai 13, 2015 | 0 comments


Três tipos de silêncio que envolvem o mejor2trabalho dos jornalistas foram temas da primeira mesa-redonda do Mejor, realizada na manhã da quarta-feira, 13 de maio: a dificuldade para lidar com as próprias emoções no exercício da profissão, o corporativismo que muitas vezes impede a crítica aos colegas e, por fim, a resistência em dar voz às minorias.

Os professores Denis Ruellan, da Université de Rennes 1 (França), e Florence Le Cam, da Universidade de Bruxelas (Bélgica), apresentaram os primeiros resultados de uma pesquisa que investiga as emoções sentidas pelos jornalistas durante a execução do trabalho, com base na análise de 50 autobiografias de repórteres de guerra e de apresentadores de programas televisivos, complementada por entrevistas com dez deles. Os pesquisadores constataram que, embora sensações como estar em meio a uma guerra ou ao vivo diante de milhões de telespectadores sejam frequentemente comparadas a um vício e o engajamento emocional represente uma das bases da motivação profissional, os jornalistas resistem em falar sobre o que sentem – como se a expressão das emoções não fosse legítima e os colocasse em algum tipo de perigo.

Marie-Soleil Frère, da Universidade Livre de Bruxelas, descreveu seus estudos sobre a mídia nos países francófonos da África Subsaariana. Ela constatou a existência de uma espécie de “lei do silêncio” que faz com que jornalistas e veículos de imprensa não critiquem publicamente uns aos outros, mesmo diante de erros evidentes. A pesquisadora associa esse corporativismo a um pacto de defesa mútua com o propósito de não tornar a mídia ainda mais vulnerável numa região em que predominam os regimes com tendências autoritárias.

As discussões da manhã se completaram com a exposição do professor Jorge Ijuim, do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, sobre o tratamento dado pela imprensa brasileira à questão indígena. Ijuim lembrou que praticamente toda a cobertura dos jornais sobre o ataque a um acampamento indígena no Mato Grosso do Sul, que resultou na morte do cacique Nísio Gomes, em 2011, menosprezou a versão dos personagens principais. “Todo mundo era ouvido nas matérias, menos os índios”, resumiu. Ele lembrou que procedimento semelhante costuma ocorrer quando a mídia trata dos “diferentes” – minorias e marginalizados em geral.

 

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