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IMG_20150515_142044188Após três dias com debates e questionamentos sobre os silêncios do jornalismo, a “7ª Jornada Olhares cruzados sobre as dinâmicas contemporâneas do Jornalismo (REJ)” marcou o encerramento do III Mejor, na última sexta feira (15). Durante todo o dia os palestrantes tentaram requestionar as normas dos pesquisadores que atuam no campo.

Gilles Gauthier, da Université Laval, Canadá, buscou refletir sobre as normas adotadas dentro do jornalismo, ressaltando três princípios que ele considera básicos à profissão: realidade, verdade e objetividade. De acordo com o pesquisador todos estão interligados e juntos proporcionam o objetivo claro de informar. Ele reforçou ainda que o jornalismo não deve se delimitar pelas suas fronteiras, mas para o progresso do campo faz-se necessário confrontar as diversas concepções jornalísticas.

Levando a discussão para o campo da sociologia, Sayonara Leal, da Universidade de Brasília, apresentou aspectos relacionados à concepção dos conteúdos, com foco na objetividade e neutralidade. De acordo com ela, a mídia como meio informativo cumpre o papel de informar sem pretensões ideológicas, porém é fundamental pensarmos nos processos correlatos ao conteúdo, pois muitas vezes não se tem ideia de como esse foi produzido e os elementos que o cercam.

Sayonara acentuou ainda que no processo de produção da notícia o jornalista precisa repensar o que está sendo dito de acordo com os retornos anteriores, a rede de atores envolvidos na coprodução e no público alvo. Pensar a fabricação de conteúdo nas copresenças, como as manifestações através dos meios tecnológicos, pois são esses elementos que estão para além da subjetividade única e privada do próprio jornalista.

Florence Caeymaex, da Universidade de Liège, Bélgica, buscou refletir sobre as transferências entre os saberes eruditos e práticos, ou seja, a relação entre mercado e academia. Para ela ambos podem contribuir mutuamente, pois do ponto de vista materialista a capacidade critica dos saberes se inserem em um contexto especifico, mas o ensino não exclui finalidades prática.

A pesquisadora salientou que o jornalismo é materialmente condicionado, pois produz saberes sobre o mundo, e as normas delimitam a forma de agir podendo resultar em falhas como produções tendenciosas ou sensacionalistas. Assim ela reforçou a necessidade dessa troca de experiências, pois na medida em que se conhece a capacidade crítica desenvolvida na academia pode-se pensar em mudanças nesses saberes e na forma de produzi-los.

Madalena Oliveira, da Universidade do Minho, Portugal, abordou o conceito de Metajornalismo, ressaltando o ponto de que o jornalismo é uma ação sobre a realidade e não o produto. Para a pesquisadora é o jornal que faz a notícia e não o contrário, pois todos os acontecimentos são virtualmente atuais, mas a seleção do que será retratado é uma ação sobre essa realidade. Nesse sentido ela reforçou a necessidade de na hora da apuração ter um conhecimento menos formatado e ser mais crítico levando-se em conta os aspectos éticos e as circunstâncias da enunciação.

Na penúltima comunicação do dia Gilles Bastin, da Universidade de Grenoble, França, fez um panorama histórico na relação entre jornalismo e sociologia. Ele apresentou textos que reforçavam a necessidade de distanciar as duas áreas nos quais a mídia era excluída como objeto de estudo da sociologia. Aqueles que insistiam em pesquisas com esse foco eram considerados pseudossociólogos e essas foram relativamente evitadas até a década de 90. Bastin ressaltou que ainda hoje sociólogos que buscam estudar a mídia são vistos como estranhos por jornalistas, mas reforçou essa necessidade para enriquecer ambas as áreas.

De acordo com ele a prática jornalística pode ajudar a compreender e explicar a sociedade, em contrapartida os estudos sociológicos sobre a mídia podem contribuir na medida em que problematizam seu papel social.

A última comunicação do dia ficou por conta de Cremilda Medina, da Universidade de São Paulo, que abordou a necessidade de trabalhar a pesquisa sobre as narrativas da contemporaneidade. De acordo com ela é preciso transcender as fontes oficiais e ir ao encontro dos protagonistas sociais, ou seja, as pessoas anônimas que vivem em um contexto coletivo. Diante dos conflitos de verdades e pressão existente no campo jornalístico ela apontou a importância de se buscar a polifonia de significados além de procurar identificar os diagnósticos e prognósticos dessas divergências.

Assim como Gilles Bastin, Cremilda também viu como promissora a união de pesquisas entre os campos da sociologia e jornalismo além de ressaltar a necessidade da academia dialogar com a prática jornalística. “O trânsito ao saber local/comum merece ser parceiro do saber científico”, reforçou.

O encerramento da jornada ficou por conta de Eduardo Meditsch, da Universidade Federal de Santa Catarina. Ele fez uma retrospectiva dos quatro dias de evento, reforçando a necessidade de se discutir o conhecimento do/pelo jornalismo (método jornalístico de fabricar informações sobre a realidade); sobre o jornalismo (método científico para explicar o jornalismo como fenômeno ou objeto) e para o jornalismo (métodos pedagógicos utilizados na formação profissional/universitária dos jornalistas). O professor fez também um resgate histórico no qual abordou casos em que se perdeu a memória jornalística, como as teorias esquecidas de Otto Groth e Tobias Peucer.

Meditsch reforçou ainda a necessidade de se resgatar essas memórias bem como viu positivamente a busca pela interdisciplinaridade e transdiciplinaridade dentro do campo, porém salientou a importância de se construir primeiro uma disciplina sólida. “É preciso fecundar a criatividade da área acadêmica”, finalizou, parafraseando Darcy Ribeiro.

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IMG_20150514_143708865O dia de ontem, 14, foi inteiramente dedicado aos grupos de trabalho no III Mejor. Com quatro mesas temáticas, pesquisadores brasileiros e estrangeiros tiveram a oportunidade de apresentar e debater suas investigações.

Cada pesquisador teve cerca de 40 minutos para apresentação, tradução e discussão sobre seu trabalho. O formato das mesas, com no máximo oito artigos, foi elogiado pelos participantes por possibilitar o debate acerca das pesquisas e a troca de experiências.

Pela manhã, os professores Antônio Brasil e Orlando Berti coordenadaram o GT “Resistências e rupturas”, que teve trabalhos da Universidade Livre de Bruxelas, UFSM, UFSC e Uespi. Simultaneamente, ocorreu o GT “Os silenciamentos e os não-ditos no discurso do jornalismo”, coordenado pelos professores Fábio Pereira e Florence Le Cam, com pesquisas da UFF, Estácio de Sá, UFJF e Universidade de Rennes 1.

À tarde, foram realizadas mais duas mesas temáticas. Com pesquisas da UFSM, UFMG, UnB, UFSC, Universidade de Rennes 1, Universidade Livre de Bruxelas e Universidade de Grenoble 3, o GT coordenado por Jorge Ijuim discutiu “Silêncio e a representação das identidades nacionais e dos grupos sociais”. Finalmente, o GT “O silenciamento das práticas no joornalismo: gestão das interações” recebeu trabalhos da Unisinos, UFSC, UFTPR, PUC-Rio e UFC e foi coordenado pela professora Daiane Bertasso.

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Três tipos de silêncio que envolvem o mejor2trabalho dos jornalistas foram temas da primeira mesa-redonda do Mejor, realizada na manhã da quarta-feira, 13 de maio: a dificuldade para lidar com as próprias emoções no exercício da profissão, o corporativismo que muitas vezes impede a crítica aos colegas e, por fim, a resistência em dar voz às minorias.

Os professores Denis Ruellan, da Université de Rennes 1 (França), e Florence Le Cam, da Universidade de Bruxelas (Bélgica), apresentaram os primeiros resultados de uma pesquisa que investiga as emoções sentidas pelos jornalistas durante a execução do trabalho, com base na análise de 50 autobiografias de repórteres de guerra e de apresentadores de programas televisivos, complementada por entrevistas com dez deles. Os pesquisadores constataram que, embora sensações como estar em meio a uma guerra ou ao vivo diante de milhões de telespectadores sejam frequentemente comparadas a um vício e o engajamento emocional represente uma das bases da motivação profissional, os jornalistas resistem em falar sobre o que sentem – como se a expressão das emoções não fosse legítima e os colocasse em algum tipo de perigo.

Marie-Soleil Frère, da Universidade Livre de Bruxelas, descreveu seus estudos sobre a mídia nos países francófonos da África Subsaariana. Ela constatou a existência de uma espécie de “lei do silêncio” que faz com que jornalistas e veículos de imprensa não critiquem publicamente uns aos outros, mesmo diante de erros evidentes. A pesquisadora associa esse corporativismo a um pacto de defesa mútua com o propósito de não tornar a mídia ainda mais vulnerável numa região em que predominam os regimes com tendências autoritárias.

As discussões da manhã se completaram com a exposição do professor Jorge Ijuim, do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, sobre o tratamento dado pela imprensa brasileira à questão indígena. Ijuim lembrou que praticamente toda a cobertura dos jornais sobre o ataque a um acampamento indígena no Mato Grosso do Sul, que resultou na morte do cacique Nísio Gomes, em 2011, menosprezou a versão dos personagens principais. “Todo mundo era ouvido nas matérias, menos os índios”, resumiu. Ele lembrou que procedimento semelhante costuma ocorrer quando a mídia trata dos “diferentes” – minorias e marginalizados em geral.

 

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Os pequenos e os grandes silêncios do jornalismo. Esse foi o tema da conferência de abertura do III Mejor, realizada na noite de ontem, dia 12.

O prof. Dr. Francisco Karam, coordenador do PosJor, abriu a conferência falando sobre a importância do evento, de caráter internacional, e que se propõe a discutir questões-chave para se pensar o jornalismo. Karam citou o exemplo da cobertura feita pela imprensa de dois casos de corrupção no Brasil, a Operacão Lava-Jato e a Operação Zelotes. Segundo ele, a imprensa silencia a cobertura da Zelotes, pois se trata de uma investigação sobre crimes cometidos pelas empresas jornalísticas. “O jornalismo é campeão na exigência de transparência – dos outros”, afirmou.

IMG_1630Compuseram a mesa de abertura o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina e presidente do 3º Mejor, o professor doutor Francisco José Castilhos Karam. Os coordenadores internacionais deste evento: os professores doutores Denis Ruellan (Universidade de Rennes 1, da França), Florence Le Cam e Marie-Soleil Frère, ambas da Universidade Livre de Bruxelas. O presidente do Comitê Científico, o professor doutor Fábio Henrique Pereira, da Universidade de Brasília. A pró-reitora de Pós-Graduação da UFSC, a professora doutora Joana Maria Pedro. O diretor do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), professor doutor Felício Wessling Margotti. O chefe do Departamento de Jornalismo da UFSC Carlos Augusto Locatelli. A secretária-geral da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), a professora doutora Valci Zuculoto, que nesta ocasião representa o presidente Celso Schröeder. O presidente da Associação Catarinense de Imprensa, Ademir Arnon. E ainda, o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Santa Catarina, Aderbal João da Rosa Filho.

Casos de silêncio na imprensa brasileira
IMG_1631A palestrante da noite, profa. Dra. Sylvia Moretzsohn, da Universidade Federal Fluminense, relembrou diversos casos ocorridos na imprensa brasileira, em que ficaram evidentes silenciamentos e reproduções do senso comum. “Quando você pensa no silêncio, muitas vezes se pensa na censura, mas não no silêncio fundador”, enfatizou.

A professora problematizou diversas coberturas, questionando enquandramentos e alertando para a superficialidade: a morte do jornalista Tim Lopes, o caso do menor que foi preso a um poste por rapazes no Rio de Janeiro, a violência da Polícia Militar contra professores em Curitiba, entre outros. “As empresas silenciam sobre seus interesses em nome do discurso em prol do interesse público”, afirmou.

Por fim, Moretzsohn lembrou um caso de ruptura do silêncio, ao exibir o vídeo do Jornal Nacional de 1994, quando Cid Moreira leu, ao vivo, o direito de resposta dado a Leonel Brizola. “Há sempre essas possibilidades de resistência a esse silenciamento”, concluiu.

III Mejor segue até sexta-feira
A programação do evento continua até sexta, dia 15, com mesas temáticas, grupos de trabalho e oportunidades de troca de experiências de pesquisa. Veja aqui as atividades: http://mejor2015.sites.ufsc.br/?page_id=65

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