Último dia do Mejor discutiu as normas dos pesquisadores em jornalismo

Posted By on mai 16, 2015 | 0 comments


IMG_20150515_142044188Após três dias com debates e questionamentos sobre os silêncios do jornalismo, a “7ª Jornada Olhares cruzados sobre as dinâmicas contemporâneas do Jornalismo (REJ)” marcou o encerramento do III Mejor, na última sexta feira (15). Durante todo o dia os palestrantes tentaram requestionar as normas dos pesquisadores que atuam no campo.

Gilles Gauthier, da Université Laval, Canadá, buscou refletir sobre as normas adotadas dentro do jornalismo, ressaltando três princípios que ele considera básicos à profissão: realidade, verdade e objetividade. De acordo com o pesquisador todos estão interligados e juntos proporcionam o objetivo claro de informar. Ele reforçou ainda que o jornalismo não deve se delimitar pelas suas fronteiras, mas para o progresso do campo faz-se necessário confrontar as diversas concepções jornalísticas.

Levando a discussão para o campo da sociologia, Sayonara Leal, da Universidade de Brasília, apresentou aspectos relacionados à concepção dos conteúdos, com foco na objetividade e neutralidade. De acordo com ela, a mídia como meio informativo cumpre o papel de informar sem pretensões ideológicas, porém é fundamental pensarmos nos processos correlatos ao conteúdo, pois muitas vezes não se tem ideia de como esse foi produzido e os elementos que o cercam.

Sayonara acentuou ainda que no processo de produção da notícia o jornalista precisa repensar o que está sendo dito de acordo com os retornos anteriores, a rede de atores envolvidos na coprodução e no público alvo. Pensar a fabricação de conteúdo nas copresenças, como as manifestações através dos meios tecnológicos, pois são esses elementos que estão para além da subjetividade única e privada do próprio jornalista.

Florence Caeymaex, da Universidade de Liège, Bélgica, buscou refletir sobre as transferências entre os saberes eruditos e práticos, ou seja, a relação entre mercado e academia. Para ela ambos podem contribuir mutuamente, pois do ponto de vista materialista a capacidade critica dos saberes se inserem em um contexto especifico, mas o ensino não exclui finalidades prática.

A pesquisadora salientou que o jornalismo é materialmente condicionado, pois produz saberes sobre o mundo, e as normas delimitam a forma de agir podendo resultar em falhas como produções tendenciosas ou sensacionalistas. Assim ela reforçou a necessidade dessa troca de experiências, pois na medida em que se conhece a capacidade crítica desenvolvida na academia pode-se pensar em mudanças nesses saberes e na forma de produzi-los.

Madalena Oliveira, da Universidade do Minho, Portugal, abordou o conceito de Metajornalismo, ressaltando o ponto de que o jornalismo é uma ação sobre a realidade e não o produto. Para a pesquisadora é o jornal que faz a notícia e não o contrário, pois todos os acontecimentos são virtualmente atuais, mas a seleção do que será retratado é uma ação sobre essa realidade. Nesse sentido ela reforçou a necessidade de na hora da apuração ter um conhecimento menos formatado e ser mais crítico levando-se em conta os aspectos éticos e as circunstâncias da enunciação.

Na penúltima comunicação do dia Gilles Bastin, da Universidade de Grenoble, França, fez um panorama histórico na relação entre jornalismo e sociologia. Ele apresentou textos que reforçavam a necessidade de distanciar as duas áreas nos quais a mídia era excluída como objeto de estudo da sociologia. Aqueles que insistiam em pesquisas com esse foco eram considerados pseudossociólogos e essas foram relativamente evitadas até a década de 90. Bastin ressaltou que ainda hoje sociólogos que buscam estudar a mídia são vistos como estranhos por jornalistas, mas reforçou essa necessidade para enriquecer ambas as áreas.

De acordo com ele a prática jornalística pode ajudar a compreender e explicar a sociedade, em contrapartida os estudos sociológicos sobre a mídia podem contribuir na medida em que problematizam seu papel social.

A última comunicação do dia ficou por conta de Cremilda Medina, da Universidade de São Paulo, que abordou a necessidade de trabalhar a pesquisa sobre as narrativas da contemporaneidade. De acordo com ela é preciso transcender as fontes oficiais e ir ao encontro dos protagonistas sociais, ou seja, as pessoas anônimas que vivem em um contexto coletivo. Diante dos conflitos de verdades e pressão existente no campo jornalístico ela apontou a importância de se buscar a polifonia de significados além de procurar identificar os diagnósticos e prognósticos dessas divergências.

Assim como Gilles Bastin, Cremilda também viu como promissora a união de pesquisas entre os campos da sociologia e jornalismo além de ressaltar a necessidade da academia dialogar com a prática jornalística. “O trânsito ao saber local/comum merece ser parceiro do saber científico”, reforçou.

O encerramento da jornada ficou por conta de Eduardo Meditsch, da Universidade Federal de Santa Catarina. Ele fez uma retrospectiva dos quatro dias de evento, reforçando a necessidade de se discutir o conhecimento do/pelo jornalismo (método jornalístico de fabricar informações sobre a realidade); sobre o jornalismo (método científico para explicar o jornalismo como fenômeno ou objeto) e para o jornalismo (métodos pedagógicos utilizados na formação profissional/universitária dos jornalistas). O professor fez também um resgate histórico no qual abordou casos em que se perdeu a memória jornalística, como as teorias esquecidas de Otto Groth e Tobias Peucer.

Meditsch reforçou ainda a necessidade de se resgatar essas memórias bem como viu positivamente a busca pela interdisciplinaridade e transdiciplinaridade dentro do campo, porém salientou a importância de se construir primeiro uma disciplina sólida. “É preciso fecundar a criatividade da área acadêmica”, finalizou, parafraseando Darcy Ribeiro.

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